Monday, February 1, 2010

O mar de pessoas

Um ar de pessoas, comum mar
Mar comum,
Que venta tempos,
Que acumula.

Um ar de pessoas ,comum pesadelo
Que caga espinhos,
Que inventa estorias,
Mais de pessoas.

Um ar de mar, comum pensamento
Que vem,
Aqui,
Que vai embora.

Um oceano de pessoas, comum a tempestade
Que molha,afunda,sufoca,maltrata,
Moroso mar,
Se acaba numa vala.

13 comments:

Simone Costa said...

Maravilhoso! Muitissimo bem escrito!
Adorei!

Simone Costa said...

Textos são como filmes (para mim) devem ser lidos e relidos...esquecidos e achados novamente. Quando, então, os lemos com outros olhares e novos sentimentos - dando-lhes outro(s) sentido(s). Suas "petulâncias" são textos merecidamente relidos e revistos. É sempre uma surpresa.

O leitor tem o péssimo hábito de querer advinhar o que se passa por trás da (es)história, gosta de imaginar o que o escritor - possivelmente - sente ou pensa...

Hoje, sua prosa poética, tem um outro colorido, pois sei dos sentimentos que o fizeram nascer. Ontem, na primeira leitura, eu-leitora-de-péssimo-hábito, imaginei que se tratar do mar de pessoas mortas do Haiti...
Hoje, eu leitora, sem suposições ou adivinhações percebo que - de fato - tratava-se de um "terremoto"

Denso, coeso, sóbrio e sobretudo apurado.

Muito bom mesmo!!!

walter said...

Nossa Simone,voce me fez rir muito.
E' um terremoto mesmo,rs,rs.
A minha re-leitura do mesmo hoje foi carregada de culpa. Desculpa,mas e'foda!

Anonymous said...

É fácil gostar. Gostar não pede explicações, é natural, existe e é suficiente para quem gosta. Quando li “O mar de pessoas” do Walter pela primeira vez, senti algo especial. O jogo de palavras é tão doce e agradável como uma ingênua brincadeira de criança. O final tão duro e abrupto como as palavras de um velho sábio que não tem que medir suas palavras.

Tudo começa com o mais leve dos elementos, o ar. E embora, inicie como uma brincadeira, o leitor é forçado a pensar no que está lendo para não se confundir com os elementos, é o começo de um furacão: ar, mar, vento e tempo se acumulam. Mas ele não está apenas falando de elementos naturais, está falando de relações pessoais. Estas que são agradáveis como a brisa do mar, mas que se desgastam com o tempo e podem acumular rancor, traição e tristeza.

Na segunda estrofe começa a tempestade. Começamos a ver que não estamos num sonho observando o mar, estamos em um pesadelo. O ar aqui é pesado, “caga espinhos”, personifica e “inventa estórias”. O mar cresce e acumula “mais pessoas”. Em oposição, na terceira estrofe temos a calmaria que antecede o furacão. “Um ar de mar” que chega trazendo uma doce sensação e passa durando tão pouco quanto a leitura da palavra “aqui”.Terminamos a estrofe com a saudade da brisa que passou.

Finalmente, a quarta estrofe é o furacão com toda a sua força. Não é mais um “mar de pessoas” é um oceano de pessoas”. Somos envolvidos por ele e já não é possível saber o que é mar, o que é pessoa. Mais uma vez com uma excelente escolha de palavras nos deparamos com uma descrição de relacionamentos pessoais: “Um oceano de pessoas, comum a tempestade”. Não é possível saber se as pessoas são algo comum para a tempestade, e por isso sem importância, ou se essas pessoas são o motivo de toda a tempestade. O furacão no qual estamos envolvidos “molha, afunda, sufoca, maltrata”, tudo isso pode ser dito de uma tempestade, mas também de um relacionamento doentio; e sua passagem é lenta, duradoura não podemos ver seu fim. O mar de pessoas se acaba numa vala. Mas o que temos aqui? E o fim do mar como em uma Terra plana em que ele, o mar, acaba no vazio? Não, aqui encontramos o fim, a morte. O fim das pessoas, o fim dos relacionamentos ou o fim do mar não está claro. Ao final, sabemos apenas que fomos levados por um mar de palavras e sensações.

Walter, continue impetulante.

walter said...
This comment has been removed by the author.
walter said...

Muito obrigado pelo seu comentario,Marcos.
A sua analise detalhada e inteligente esta perfeita.
Fiquei muito contente.

Unknown said...

Walter my darling,
Não tenho a pretensão de descobrir a sua intenção, mas devo dizer que o poema inspira o leitor a ter as próprias interpretações. E isso o faz (poema e autor) muito especial.
Pessoas que vão e vem, e que como o mar, poderiam ser serenas mas também são devastadoras, intensas, sufocantes.
O mar de sensações que a convivência nos permite sentir. O mar de desejos que a imaginação nos faz criar.

Criativo, Sensivel, e Intenso... como voce.

Beijocas
M. Alice

walter said...

Obrigado,Maria Alice!
Estou com saudades dos seus "absolutely(S)."
Vamos no jogo do Santos?
Voce viu que legal a interpretacao do Marcos?

Manoela Abreu said...

Não compreendi o seu poema de cara. Por isso mesmo, levei um tempo, digerindo-o.
Lendo e relendo, descobri coisas antes não observadas...algo que passara batido.
Seu "O mar de pessoas" toca profundamente a alma, Walter Rabelo. Ele expressa os caminhos da vida.
Ao perceber atentamente a acuidade das palavras, elas possuem movimento, possuem sentimentos e caminham por si próprias ao longo do texto, expressando tudo aquilo que está no seu mais íntimo.
Os versos reverberam sons do coração, trazendo à tona a dor da incompreensão humana.
Adorei!
Amo vc!

walter said...

Obrigado,Manuela.
Engracado que hoje eu escorreguei no gelo e cai na neve.Foi estranho pois eu me senti suspenso no ar por alguns segundos,esperando a queda.
Senti cada segundo antes da queda e pareceu uma eternidade.
Levantei com uma voz jovem,suave de um estranho peguntando se eu estava bem e me dando o celular que havia caido no chao.Fiquei preocupado com o meu pescoco,de ter machucado o meu edema,de ficar tonto...Pensei que a morte deve ser assim como esta queda,mais como um tombo rapido.
O resto de tao pesado das dores se torna abstrato com a dor de uma queda,ainda que melhor que uma dor de dente.
Bill clinton colocou 2 stents nas suas arterias.
Lembrei da minha mae.

walter said...

"Tem uma galinha gritando no morro...colocou um ovo."Luis Capucho...adoro o Luis Capucho!

walter said...

Adoro galinhas tambem.
Quando era crianca no Rio eu tinha gailnhas e galos no quintal da casa da Mallet.Eu trocava garrafas por pintinhos e eles cresciam e se tornavam galos e galinhas.
Uma vez a minha mae cozinhou uma para o almoco.
Uma galinha silvestre uma vez teve filhos no quinal e ela nao deixava niguem alem de mim chegar perto. Um dos pintinhos nasceu com a patinha torta e ele era o que eu mais gostava.Morreu jovem numa poca d'agua.
Puta que pariu.

Manoela Abreu said...

O capucho é realmente sensacional. Além de ter trazido esse momento nostálgico da sua infância, tempos que não voltam mais.
É...pode ser...a morte deve ser como essa queda...numa fração de segundos, dizem passar o filme da vida, na cabeça...
é um mistério!